Fazer este blog tem me feito notar coisas que eu normalmente não notaria. Além disso, tenho cada vez mais percebido que escrever é uma arte! É difícil reler suas próprias produções depois do calor do momento; sempre quero mudar algo, incluir, tirar, enfim... Peço desculpas pelos errinhos e espero continuar passando a vocês esta experiência da forma mais clara, leve e objetiva possível.
Falando na arte da escrita, lembrei da contracapa de um livro que ganhei da querida diplomatriz Carollina Tavares, que diz: "O escritor não é alguém que vê coisas que ninguém mais vê. O que ele simplesmente faz é iluminar com os seus olhos aquilo que todos veem sem se dar conta disso. (...) para que o mundo já conhecido seja de novo conhecido como nunca foi." (Rubem Alves)
Na África, descobri que a escrita pode ter milhares de formas e cores! Aqui, até o estampado de uma roupa é uma forma de expressão. A estampa fala por si só, cada uma delas explicita um sentimento, uma situação, um nome, um provérbio... Uma mensagem que pode tratar das relações entre marido e mulher, entre a mulher e outras mulheres, sobre si ou sobre a comunidade. Ao vestir determinada estampa, a pessoa envia a mensagem desejada.
Um exemplo dessa "linguagem da roupa" são os símbolos "adinkra" (linguagem de ideogramas impressos, em padrões repetidos, sobre um tecido de algodão), por meio dos quais valores como a integridade, a paz e o amor são refletidos na vestimenta. A mesma coisa ocorre com as cores. O luto, por exemplo, é representado pela combinação entre o azul, o vermelho escuro, o marrom ou preto. O status de uma pessoa também pode ser revelado pela qualidade do tecido, o que, naturalmente, não é novidade para nós. Os símbolos adinkras foram desenvolvidos pelos Akan, grupo étnico presente em Gana, na Costa do Marfim e no Togo, países da África do Oeste.
Nos casamentos tradicionais, ainda se utiliza o dote. Mas além da festa, o noivo deve dar tecidos à família da noiva. A quantidade representa o poder e a riqueza do noivo. Nesses casamentos, a noiva escolhe uma estampa e o noivo escolhe outra, com as quais os convidados de cada um confeccionam suas roupas. Assim, durante a festa, fica visível quem são os convidados da noiva e os convidados do noivo. Presentear com tecidos (em qualquer ocasião) também é de bom tom!
Ainda sobre as vestimentas, aqui no Gabão é muito comum as pessoas utilizarem roupas tradicionais africanas no dia-a-dia, principalmente as mulheres. Elas usam vestidos longos e justos ou conjuntos de saias longas e blusas, também justas, frequentemente usando o "boubou" (lenço com diversas dobras na cabeça).
Os cabelos estão sempre bem arrumados, com tranças que podem ou não ter apliques. As mais moderninhas (e com dinheiro) preferem usar a sua peruca com longas e belas madeixas! Sim! Perucas!!!! Quando eu cheguei, reparei nos cabelos por um bom tempo até descobrir que algumas usavam peruca e que a maioria delas utiliza a "tissage" ou aplique, como conhecemos.
Os homens usam ternos muito bem cortados e sapatos brilhantes de boa qualidade (os políticos e homens de negócio), os demais usam - sempre - calças e camisas, que podem ser de tecidos africanos. Nesse último caso, calça e camisa combinam, são da mesma estampa super-colorida.
Nas festas e eventos sociais, as africanas se vestem de forma extremamente elegante. Com muitas jóias, tecidos incríveis, bolsas, chapéus ou lenços de respeito e sapatos impecáveis. Nas boutiques, vi roupas desse tipo que chegam a custar cerca de R$ 2.000,00 - estilo africano, preço gabonês!
Gostaria muito de ter fotos dos tecidos daqui, assim com da moda gabonesa, mas aqui tirar fotos é quase um pecado. Ninguém gosta de ser fotografado sem autorização prévia, talvez pelas lendas do passado (a foto poderia ser usada em algum ritual de magia negra) ou mesmo por medo de ser estampado em alguma revista internacional que mostram as mazelas da África. Quem sabe, numa hora dessas, eu me sinto menos vigiada e tiro umas fotinhas para nós?!
No Gabão, particularmente, a questão religiosa está muito presente na cultura e deixou legado nos costumes: os mais antigos, por exemplo, costumam ter medo de entrar no mar. Eles acreditam que existem espíritos marítimos que podem trazer má sorte...
Essa parte da história fica para um próximo post, com um pouco das famosas máscaras gabonesas (dos grupos étnicos Fang e Punu, entre outros), da religião nativa e algumas das estórias estranhas que rondam por aqui...
Finalizando, deixo um clipe de uma cantora gabonesa muito famosa, Patience Dabany. Ela é ex-mulher do ex-presidente Omar Bongo Ondimba e mãe do atual presidente Ali Bongo Ondimba, também músico.
On est ensemble!
Falando na arte da escrita, lembrei da contracapa de um livro que ganhei da querida diplomatriz Carollina Tavares, que diz: "O escritor não é alguém que vê coisas que ninguém mais vê. O que ele simplesmente faz é iluminar com os seus olhos aquilo que todos veem sem se dar conta disso. (...) para que o mundo já conhecido seja de novo conhecido como nunca foi." (Rubem Alves)
Na África, descobri que a escrita pode ter milhares de formas e cores! Aqui, até o estampado de uma roupa é uma forma de expressão. A estampa fala por si só, cada uma delas explicita um sentimento, uma situação, um nome, um provérbio... Uma mensagem que pode tratar das relações entre marido e mulher, entre a mulher e outras mulheres, sobre si ou sobre a comunidade. Ao vestir determinada estampa, a pessoa envia a mensagem desejada.
Um exemplo dessa "linguagem da roupa" são os símbolos "adinkra" (linguagem de ideogramas impressos, em padrões repetidos, sobre um tecido de algodão), por meio dos quais valores como a integridade, a paz e o amor são refletidos na vestimenta. A mesma coisa ocorre com as cores. O luto, por exemplo, é representado pela combinação entre o azul, o vermelho escuro, o marrom ou preto. O status de uma pessoa também pode ser revelado pela qualidade do tecido, o que, naturalmente, não é novidade para nós. Os símbolos adinkras foram desenvolvidos pelos Akan, grupo étnico presente em Gana, na Costa do Marfim e no Togo, países da África do Oeste.
Nos casamentos tradicionais, ainda se utiliza o dote. Mas além da festa, o noivo deve dar tecidos à família da noiva. A quantidade representa o poder e a riqueza do noivo. Nesses casamentos, a noiva escolhe uma estampa e o noivo escolhe outra, com as quais os convidados de cada um confeccionam suas roupas. Assim, durante a festa, fica visível quem são os convidados da noiva e os convidados do noivo. Presentear com tecidos (em qualquer ocasião) também é de bom tom!
Casamento tradicional no Gabão - fotos feitas pela brasileira Mirian Freitas.
Os cabelos estão sempre bem arrumados, com tranças que podem ou não ter apliques. As mais moderninhas (e com dinheiro) preferem usar a sua peruca com longas e belas madeixas! Sim! Perucas!!!! Quando eu cheguei, reparei nos cabelos por um bom tempo até descobrir que algumas usavam peruca e que a maioria delas utiliza a "tissage" ou aplique, como conhecemos.
Os homens usam ternos muito bem cortados e sapatos brilhantes de boa qualidade (os políticos e homens de negócio), os demais usam - sempre - calças e camisas, que podem ser de tecidos africanos. Nesse último caso, calça e camisa combinam, são da mesma estampa super-colorida.
Nas festas e eventos sociais, as africanas se vestem de forma extremamente elegante. Com muitas jóias, tecidos incríveis, bolsas, chapéus ou lenços de respeito e sapatos impecáveis. Nas boutiques, vi roupas desse tipo que chegam a custar cerca de R$ 2.000,00 - estilo africano, preço gabonês!
Gostaria muito de ter fotos dos tecidos daqui, assim com da moda gabonesa, mas aqui tirar fotos é quase um pecado. Ninguém gosta de ser fotografado sem autorização prévia, talvez pelas lendas do passado (a foto poderia ser usada em algum ritual de magia negra) ou mesmo por medo de ser estampado em alguma revista internacional que mostram as mazelas da África. Quem sabe, numa hora dessas, eu me sinto menos vigiada e tiro umas fotinhas para nós?!
No Gabão, particularmente, a questão religiosa está muito presente na cultura e deixou legado nos costumes: os mais antigos, por exemplo, costumam ter medo de entrar no mar. Eles acreditam que existem espíritos marítimos que podem trazer má sorte...
Finalizando, deixo um clipe de uma cantora gabonesa muito famosa, Patience Dabany. Ela é ex-mulher do ex-presidente Omar Bongo Ondimba e mãe do atual presidente Ali Bongo Ondimba, também músico.
On est ensemble!
Em Moçambique esses tecidos Africanos são chamados de Capulana. Adorei o post. Beijos
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