Fomos muito bem recebidos na casa dos nossos queridos amigos João e Gabi. À noite tivemos a oportunidade de conhecer pessoalmente os maiores artistas plásticos do Benim, em uma recepção realizada na Residência do Brasil em Cotonou. Oportunidade na qual também pudemos conhecer empresários brasileiros que estão desenvolvendo negócios na região. Morando no exterior é sempre bom encontrar brasileiros, não é?!
Foi incrível perceber que as experiências de chegada foram muito parecidas para todos. Inclusive as diferenças culturais enfrentadas em cada uma dessas partes da África. Mais incrível ainda foi a oportunidade de ver de perto a história de um povo que acabou constituindo parte essencial do nosso Brasil.
O atual Benim, afinal, foi o reino de Daomé (o primeiro país a reconhecer a independência do Brasil), na "costa dos escravos": de lá saíram a maior parte dos prisioneiros de guerra africanos que foram vendidos aos portugueses, franceses e ingleses para serem "usados" como escravos no Brasil, Haiti, EUA e em outros lugares das Américas.
Cotonou no alto
Rumo à cidade histórica de OuidahO atual Benim, afinal, foi o reino de Daomé (o primeiro país a reconhecer a independência do Brasil), na "costa dos escravos": de lá saíram a maior parte dos prisioneiros de guerra africanos que foram vendidos aos portugueses, franceses e ingleses para serem "usados" como escravos no Brasil, Haiti, EUA e em outros lugares das Américas.
Cotonou no alto
Portal de entrada de Ouidah - Rota dos Escravos
Vestígios da presença dos ex-escravos brasileiros que voltaram ao Benim:
"Porta do Não-Retorno", memorial erigido pela UNESCO e pelo governo beninense no local onde os agora escravos se despediam para sempre de sua terra natal, rumo às Américas
A Porta do Não-Retorno
Segundo a crença local, os cativos que partiriam para "os países dos brancos" deveriam rodar 3 vezes esta árvore, num ritual para garantir que suas almas, ao menos, retornassem à África, já que para seus corpos a viagem era sem volta.
Devido a esse ritual, os locais jamais comem os frutos desta árvore, pois seriam muito carregados de dor e sofrimento.
Os cativos, prisioneiros de guerra na verdade, eram comercializados por armas, álcool e tabaco pela etnia dominante, que fazia o "comércio" com os europeus. Um canhão valia 15 homens ou 21 mulheres.
Aqueles que morriam antes de embarcarem nos navios-negreiros eram considerados pessoas de sorte, pois seriam enterrados em sua própria terra. Este memorial foi erguido a esses.
O último embarque de escravos de Ouidah ocorreu provavelmente em 25 de março de 1862.
Visitar esses lugares e dar-me conta de que, não muitas gerações atrás, alguém da minha própria família certamente viveu essa situação (saindo do Benim ou de outra região da África) foi muito chocante. Não consegui conter as lágrimas...
E assim foi formada a base da sociedade brasileira: maltratada, arrancada de sua terra, vendida a troco de míseros cigarros ou armas, em um fenômeno que acabou há apenas cerca de 125 anos.
Por outro lado, foi importante conhecer o memorial (esse com o mapa da África) da reconciliação com a diáspora: os beninenses em diversas oportunidades reuniram afro-descendentes das Américas para pedir perdão e louvar os grandes feitos desses descendentes de africanos em países como o Brasil e o EUA, que eles tanto admiram. Foi muito importante ver que o Benim, ontem país da guerra e da escravidão, hoje é uma terra de democracia e crescimento, país da concórdia, perdão e acolhimento. Feliz sinal dos tempos.
Belo texto, Celina.
ResponderExcluirParabéns.
Obrigada, Gabriella!
ExcluirIncrível experiência, Celina. A sensação que você teve em Ouidah deve ter sido muito próxima de quando conheci, em Salvador, o porão do Mercado Modelo, ponto de chegada de muitos daqueles que deixaram o Benim para sempre. Permaneci muitos dias sensibilizado com essa visita. Na verdade, as lágrimas me acompanham até hoje em toda vez que lembro com mais detalhes daquele lugar, onde estive há longos doze anos.
ResponderExcluirMarcelo, também tive a oportunidade de conhecer o porão e mesmo que as emoções tenham sido muito semelhantes, ter a história contada pelos próprios africanos foi uma dor ainda maior. Ver no rosto a expressão de revolta ainda muito viva e notar que de uma forma ou de outra o povo negro continua sendo tão marginalizado foi chocante... Um abraço, querido amigo!
ExcluirCelina, adorei o post! Só consegui ler agora, mas tá valendo, né?! Rsrsrs... Que bom que vcs gostaram da experiência! Bjokas!!!
ResponderExcluirSempre bem-vinda! Obrigada por ter proporcionado esta experiência para nós! Estamos esperando vocês aqui, ESTE ANO! =)
ExcluirBJS